sexta-feira, 19 de março de 2021

HOMILIA PARA O DIA 21 DE MARÇO DE 2021 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

SEGUIR E SERVIR, DUAS FACES DA MESMA MOEDA

Acordo de cavalheiro, contrato de parceria, cooperação mútua , ações conjuntas, medidas articuladas, são expressões que ganharam força nos últimos meses em todos os segmentos da sociedade.  As instituições, as igrejas, os empresários, os sindicatos, o poder público, sabem muito bem que quando se somam as forças e se foca em um objetivo comum as ações costumam ser mais eficazes e duradouras.

Essa prática não é uma invenção da nossa época e nem uma solução mágica desenvolvida em algum laboratório de alta tecnologia contemporânea.  É desta situação que se pode compreender a Palavra de Deus neste 5º domingo da quaresma.

O profeta Jeremias, que exerceu sua missão em torno dos anos 600 antes de Cristo, fala exatamente de cooperação mútua, contrato de parceria: “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que concluirei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança; hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo, perdoarei sua maldade, e não mais lembrarei o seu pecado”.  Naturalmente que quem recebe uma proposta de cooperação desta envergadura precisa dar uma contrapartida, que no caso significa pensar e agir de acordo com essas propostas trata-se de se deixar transformar a partir do coração. Não são regras, normas, leis, prescrições que vão garantir a parceria, mas a determinação e a coragem para um novo estilo de vida, que vai se realizar plenamente na pessoa de Jesus.

A carta aos Hebreus faz conhecer a humanidade de Jesus que se solidariza com os sofredores do seu tempo e se concretiza no diálogo e na comunhão com as diferenças e os diferentes: “Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, aprendeu o que significa a obediência a Deus, tornou-se causa de salvação eterna”.  O jeito de ser e agir de Jesus são um caminho possível para todos também para os nossos desafiadores dias e exigentes necessidades contemporâneas.

Ver Jesus, sem sombra de dúvida é uma coisa extraordinária, quando os discípulos apresentam o pedido dos estrangeiros: “gostaríamos de ver Jesus” a resposta é pronta e imediata. Jesus não se furta da possibilidade de se dar a conhecer, entretanto deixa claro que “ver” implica muito mais do que um encontro casual, antes se completa com duas ações expressas nos dois verbos: Seguir e servir!

Todo aquele que deseja ver Jesus é desafiado a fazer a mesma experiência que ele fez: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre,
ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me”.

A proposta de Jesus implica estabelecer um acordo de cooperação, uma parceria de ajuda mútua doar a vida e servindo as pessoas num diálogo fraterno e num compromisso de unidade na diversidade. Não trancar-se somente em si e nas suas verdades, antes abrir os olhos e o coração para que todos possam reconhecer em nós e em nossas ações que também podem ver e encontrar Jesus que liberta e salva toda a humanidade.

(Concluir com o hino da Campanha da Fraternidade)

 

sexta-feira, 12 de março de 2021

HOMILIA PARA O DIA 14 DE MARÇO DE 2021 - 4º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

ENCONTRAR-SE COM JESUS CRISTO VIVO

Uma das coisas mais sofridas neste tempo de isolamento social tem sido a impossibilidade de encontrar pessoas. Por mais que as tecnologias de informação e comunicação nos colocaram em contato intenso, falta o dinamismo do encontro pessoal e caloroso das relações familiares e sociais. O Papa Bento XVI, durante a conferência de Aparecida declarou:  A fé não nasce de uma grande ideia, mas de um encontro vivo com Jesus vivo”.  E de fato isso é o que percebemos no trecho do evangelho  desse domingo que narra a sequência do encontro de Jesus com Nicodemos. Nicodemos, embora fazendo parte do grupo dos fariseus fosse às escondidas ver Jesus e desse encontro nasce toda a catequese  e a liturgia sobre a intenção de Deus: “Deus enviou o seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por ele”.  Como Nicodemos, também nós somos convidados a encontrar Jesus e aprender com Ele o caminho da entrega e do dom da vida.

A catequese que Jesus transmite a Nicodemos comparando-se com  a serpente levantada no deserto por Moisés aponta para a busca mais extraordinária de todo o ser humano: “A salvação e a vida eterna”.  Esta conquista a pessoa não realiza simplesmente por declarações racionais de fé, mas aprendendo com Jesus a encarar as cruzes e os sofrimentos que a vida lhe apresenta. Não ter medo de ir ao encontro de Jesus e de mudar as próprias referências que muitas vezes ainda hoje estão em busca de soluções fáceis e imediatas. Encontrar Jesus e nele crer implica em um novo nascimento.

Novo nascimento que já tinha sido proposto ao povo do Antigo Testamento.  Quando se escolhe os próprios caminhos o horizonte que se descortina é a própria morte, porém quando se decide voltar para Deus abre-se aí a possibilidade de recomeçar e refazer a vida por um caminho de esperança como se vê no final da primeira leitura: “O Senhor, Deus do céu, encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém, que está no país de Judá. Quem dentre vós todos, pertence ao seu povo? Que o Senhor, seu Deus, esteja com ele, e que se ponha a caminho”. O Deus de Israel não compactou com o pecado do seu povo, mas foi compassivo com a sua gente e deste encontro surge uma nova cidade e um novo templo.

Paulo garante a comunidade de Éfeso que o amor de Deus por suas criaturas é incondicional e desmedido e por meio desse amor garante a todos um mundo novo de felicidade sem fim e que se descortina ao final de nossa breve existência terrena: Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos! Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus em virtude de nossa união com Jesus Cristo. Assim, pela bondade, que nos demonstrou em Jesus Cristo Deus quis mostrar, através dos séculos futuros, a incomparável riqueza da sua graça”.

Por tudo isso é que rezamos no Salmo: “Que se prenda a minha língua ao céu da boca, se de ti Jerusalém, eu me esquecer”!

 

 

quinta-feira, 4 de março de 2021

HOMILIA PARA O DIA 07 DE MARÇO DE 2021 - 3º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

O NOSSO DEUS É UM DEUS CUIDADOR

Poucas vezes na vida nos confiamos tanto aos cuidados de Deus como nessa longa noite escura que estamos vivendo.  A expressão Deus cuide de Você, ou sob os cuidados de Deus, e ainda estamos nas mãos de Deus são repetidas com uma frequência nunca vista. Na verdade Deus sempre cuidou das pessoas e isso podemos perceber com clareza nas leituras desse domingo.

O texto do livro do êxodo apresenta uma relação de atitudes que servem de baliza para qualquer pessoa que precisa de cuidado e que, igualmente, se propõe a cuidar. E a dimensão do cuidado tem três eixos muito claros: a relação das pessoas entre si, a relação da pessoa consigo mesma e a relação com Deus.

O texto traz uma originalidade que nenhuma outra religião ou divindade se reserva: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, Não te prostrarás diante destes deuses, Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão, Lembra-te de santificar o dia de sábado”. Essas quatro regras deixam muito claro que Deus é a única referência na vida do povo.

As outras seis prescrições podem ser descritas como a constituição de um povo. Todas elas fazem referência ao respeito da pessoa pelo outro e consequentemente respeito para si mesmo.

Note-se que essas regras foram dadas logo depois que o povo se libertou da escravidão do Egito. Elas não são novas regras para coloca-los de novo num regime de servidão, pelo contrário, são balizas necessárias para garantir que a liberdade conquistada, a duras penas, não seja perdida.

Ontem como hoje não faltam oportunidades para nos deixar escravizar por deuses estranhos: dinheiro, poder, afetos, profissão, status, interesses egoístas, ideologias, moda e uma infinidade de outros em relação aos quais condicionamos nossos comportamentos. Em resumo colocar em prática os ensinamentos não é se sujeitar a uma série de regras e normas, mas ir construindo, passo a passo a própria liberdade.

São Paulo fala aos coríntios: “Nós, porém, pregamos Cristo crucificado, pois o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”. Esta afirmação implica compreender que nenhuma realização e nenhuma felicidade duradoura está no poder, na autoridade, na riqueza, mas na lógica da doação da vida até as últimas consequências, ou seja, no serviço e no diálogo fraterno com todos.

No Evangelho Jesus entra num ambiente cuja finalidade deveria ser a promoção do encontro com Deus e com as pessoas, mas o Templo de Jerusalém já não cumpre mais a missão para a qual foi construído: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio! 'O zelo por tua casa me consumirá”. A continuação das palavras de Jesus não deixa dúvidas que as autoridades dos judeus não tinham apenas profanado o Templo de pedra, mas também o templo humano. Fazendo uma alusão que só foi ser compreendida mais tarde, Jesus afirma: “Destruí, este Templo, e em três dias o levantarei”.

Se tem uma coisa que precisa ficar clara para todos é que Deus não se conforma enquanto as pessoas forem profanadas e escravizadas por quem quer que seja ou por qualquer razão que seja.

Uma vez batizados, todos fazemos parte do mesmo corpo de Jesus. Num mundo em que as pessoas são feridas, cicatrizadas, humilhadas pela fome, pela miséria, pelas doenças, pela intolerância todos somos chamados a transformar os verdadeiros templos em lugar onde mora Deus, e para isso será necessário garantir o cuidado, o respeito e a honra de todos em todos os lugares.

Que esta quaresma e o dialogo fraterno que nos ensina a Campanha da Fraternidade nos faça construtores e amantes dos Templos de Deus com quem convivemos diariamente.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 28 DE FEVEREIRO DE 2021 - 2º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

VIDA EM PLENITUDE É A VONTADE DE DEUS

Acostumar-se com as coisas boas da vida é fácil, difícil é cair na real! Esta frase certamente já foi usada muitas vezes em nossas lidas diárias. E ela sempre quer significar que o nosso cotidiano é sempre muito exigente e que não podemos cruzar os braços e esperar que as soluções caíssem com o a chuva das nuvens.

Pois foi esse o sentimento dos três amigos de Jesus quando se deram conta que no alto da montanha Deus se deu a conhecer nos sinais extraordinários que se realizaram com Jesus na conversa com Moisés e Elias, com a transfiguração e a revelação misteriosa vinda das nuvens: “Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: 'Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz”.

Os sinais extraordinários que envolveram Jesus os discípulos na montanha tem por objetivo mostrar como Deus vai realizar maravilhas com a humanidade, mas eles são apenas simbólicos, porque na realidade a salvação passa pela doação da vida, pela cruz e pelo sofrimento. Não é aconselhável acampar na montanha imaginando que a vida será sempre triunfante. Aos discípulos assustados Jesus deixa claro que compreender e entrar nos mistérios de Deus consiste em ouvir a Palavra do seu Filho e não ter medo de descer da montanha e encarar os desafios e surpresas que a vida nos prepara a cada dia.

Desafios e surpresas que Abraão soube com maestria ouvir, e mesmo sem entender estar disposto a realizar. A história de Abraão e do seu filho é a interpretação de uma antiga lenda na qual a divindade havia salvado a vida de uma criança que tinha sido destinada ao sacrifício.  A lenda foi aplicada à pessoa de Abraão que por sua fidelidade a Deus pode experimentar a sua misericórdia e fidelidade recíproca. Seguir a Deus com todas as forças e com todo o coração garantiu ao Patriarca a vida do próprio filho como pode garantir a vida de todos os que agem como Abraão.

Paulo Lembra aos romanos que Deus ama a humanidade com um amor tão extraordinário que tal como Abraão não se recusou a entregar o próprio Filho para mostrar o caminho da vida verdadeira: “Se Deus é por nós, quem será contra nós”? Quem acusará os escolhidos de Deus? Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está, à direita de Deus, intercedendo por nós”.

Não tenhamos medo a luz de Deus ilumina nosso caminho na descida das montanhas da vida, nos leva a dignificar a vida sofrida que a realidade cotidiana nos impõe. Não precisamos ter medo e  tentar fugir da realidade  amando tendas no passado ou nas falsas seguranças do mundo. Ouvir o Filho amado implica retomar sempre o dia a dia da vida com todas as suas exigências. Trata-se de se comprometer com as pessoas e com todas as lutas diárias por meio da fraternidade e do dialogo que são um compromisso de amor.

Descer da montanha é o  que  rezamos no Salmo deste domingo:

Andarei na presença de Deus,
junto a ele na terra dos vivos.
Guardei a minha fé, mesmo dizendo:
'É demais o sofrimento em minha vida!'

Vou cumprir minhas promessas ao Senhor*
na presença de seu povo reunido;
nos átrios da casa do Senhor,
em teu meio, ó cidade de Sião!

 

 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 21 DE FEVEREIRO DE 2021 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO B

 

COM JESUS NOS DESERTOS DA VIDA

No Evangelho deste domingo nós lemos: “Jesus foi para o deserto durante quarenta dias, e ali foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam”. Convenhamos que muitas vezes nós nos encontramos em “desertos da vida” e exatamente nestas situações experimentamos o máximo de nossa fraqueza, ou seja, todas as tentações possíveis e imagináveis, mas são também nestas horas que provamos todas as nossas forças e auxílios inimagináveis. Em outras palavras somos servidos pelos anjos.

A primeira leitura conta a relação de Deus com a humanidade depois do restabelecimento da aliança e da destruição do pecado que corrompia o mundo e todas as pessoas. Deus mostra sua face misericordiosa conversa fraternalmente com as criaturas e confirma sua disposição de acompanhar todos os passos da humanidade renascida pelas águas do dilúvio: “Estabeleço convosco a minha aliança. 'Este é o sinal da aliança que coloco entre mim e vós, e todos os seres vivos que estão convosco, por todas as gerações futuras. Ponho meu arco nas nuvens como sinal de aliança entre mim e a terra. Quando eu reunir as nuvens sobre a terra, aparecerá meu arco nas nuvens. Então eu me lembrarei de minha aliança convosco e com todas as espécies de seres vivos. E não tornará mais a haver dilúvio que faça perecer nas suas águas toda criatura”. O texto é uma palavra de esperança para a humanidade e mostra a bondade e a disposição de Deus que por meio do seu arco abraça e abençoa a humanidade.

Vencendo todas as tentações do deserto Jesus deixa claro que a nova humanidade não nasce das fraquezas e do pecado, pelo contrário, nasce da solidariedade e da comunhão com todos simbolizados nos “anjos que o serviam”. Dirigindo-se aos discípulos fala também a nós: 'O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”.  Passada a provação do deserto Jesus não teve uma vida fácil e livre de outras tentações e provações. Ao longo de todo o seu ministério ele se viu provocado por muitas outras situações que se assemelham ao deserto no início da missão.  

Com ele podemos aprender que a proximidade do Reino de Deus não é um acontecimento mágico, que se concretiza caindo do céu, nem tampouco marcado pela violência e pela construção de muros, antes pelo acolhimento do evangelho, pelo diálogo fraterno entre aqueles que convivem nos mesmos espaços e que pensam diferente de nós.

A concretização do Reino de Deus pede de cada pessoa um processo diário de conversão, de renuncia aos próprios interesses e a autossuficiência. Modificar nossa mentalidade, nossos valores e atitudes. Em resumo deixar-se ajudar pelos anjos que quase sempre estão próximos de nós nas pessoas com quem convivemos.

A carta de Pedro faz uma releitura do diluvio afirmando: “A arca corresponde o batismo, que hoje é a vossa salvação. Pois o batismo não serve para limpar o corpo da imundície, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo. Ele subiu ao céu e está à direita de Deus, submetendo-se a ele anjos, dominações e potestades”.

Esta leitura recorda que o Batismo é para os cristãos a aceitação da salvação que Cristo veio trazer. Uma vez batizados somos inseridos no dinamismo de uma vida nova que é o germe da humanidade renovada.

Se tem uma conclusão que pode ser útil para todos nesta quaresma consiste em perceber que a salvação trazida por Jesus não exclui ninguém, nem mesmo os pecadores obviamente que também os cristãos são convidados a praticar as mesmas ações de Jesus. Colocar nossa confiança nele e testemunhar com a vida os valores do evangelho.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 17 DE FEVEREIRO DE 2021 - 4ª FEIRA E CINZAS - ANO B

 

DEIXEMO-NOS RECONCILIAR

Guiados, pela oração, pelo Jejum, pela abstinência e caridade iniciemos nossa caminhada para a páscoa que neste ano nos convida a construir pontes e abrir-se para o diálogo com o diferente.

Não temos necessidade de tocar trombeta por nossos grandes feitos, o conselho do Evangelho para esse início de quaresma é a sutileza dos pequenos gestos. Buscar aplausos e reconhecimento pode ser sinal de quem está interiormente vazio. Que durante a quaresma sejamos libertos da tentação de exibir nossas obras para ganhar elogios.

Nesta quaresma aproximemo-nos com a consciência de nossa fraqueza, porém com a confiança da misericórdia de Deus deste modo não tenhamos medo de percorrer um caminho de esperança que se faz pelo diálogo.

Não tenhamos medo das diferenças, daquilo que era dividido Cristo fez unidade, e essa é a proposta da quaresma e da Campanha da Fraternidade.

Permitindo que se realize em nossas igrejas e na sociedade um novo pentecostes capaz de superar as polarizações e violências por meio de um diálogo construído na diversidade.

Dentre as formas para viver a espiritualidade da quaresma uma delas é a prática do Jejum. O Profeta Isaias descreve o Jejum que agrada a Deus:

Desatar os laços da maldade, desamarrar as correias que oprimem as pessoas; Partilhar o teu pão com o faminto; Acolher os pobres sem abrigo vestir aquele que está nu; Então a tua luz despontará como a aurora; Tua justiça caminhará diante de ti e a glória do Senhor será a tua retaguarda (Isaias 56, 6 -8).

E o Papa Francisco sugere:

. Jejum de palavras negativas e dizer palavras bondosas.
• Jejum de descontentamento e encher-se de gratidão.
• Jejum de raiva e encher-se com mansidão e paciência.
• Jejum de pessimismo e encher-se de esperança e otimismo.
•Jejum de preocupações e encher-se de confiança em Deus.
• Jejum de queixas e encher-se com as coisas simples da vida.
• Jejum de tensões e encher-se com orações.
• Jejum de amargura e tristeza e encher o coração de alegria.
• Jejum de egoísmo e encher-se com compaixão pelos outros.
• Jejum de falta de perdão e encher-se de reconciliação.

• Jejum de palavras e encher-se de silêncio para ouvir os outros.

HOMILIA PARA O DIA 14 DEFEVEREIRO DE 2021 - 6º COMUM - ANO B

 

AMAR COMO JESUS AMOU...

Uma das coisas mais bonitas das nossas comunidades é a variedade de canções, orações, e manifestações de piedade que repetem insistentemente nossa aceitação dos ensinamentos de Jesus: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, sorrir como Jesus sorria, viver como Jesus vivia... e ao chegar ao fim do dia eu sei que eu dormiria muito mais feliz”. Será que algumas vezes já paramos para pensar a intensidade das palavras que cantamos? Que implicação tem para a nossa vida fazer uma declaração pública com essas palavras?

Pois o Evangelho desse domingo traz mais uma vez a resposta apontando caminhos para quem quer ser discípulo de Jesus e chegar ao fim do dia podendo colocar a cabeça no travesseiro e dormir com a consciência tranquila. Vejamos: “Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: 'Se queres tens o poder de curar-me'. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: 'Eu quero: fica curado”.

Não precisamos de muitas justificativas para perceber que o leproso era uma pessoa deixada à margem da sociedade e a resposta de Jesus não se pauta na prática habitual e legal de outrora: “Cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele”.

O dia a dia dos conterrâneos de Jesus tinha como bússola para suas ações a lei de Moisés conforme se lê no livro do Levítico: Quando alguém tiver na pele do seu corpo alguma inflamação, erupção ou mancha branca, com aparência do mal da lepra, será levado ao sacerdote Aarão, ou a um dos seus filhos sacerdotes... Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento”. Os israelitas tinham construído uma imagem de Deus muito diferente daquela que agora Jesus revelava. Em nome de um Deus vingativo e excludente criaram para as pessoas e a sociedade muitas maneiras de discriminação e de rejeição.

Na sociedade atual, em nossa prática eclesial, e certamente no íntimo de nosso coração podemos facilmente selecionar uma lista infinita de preceitos legais que nos autorizam excluir a discriminar as pessoas.

O fantasma da “lepra” contemporânea salta aos nossos olhos disfarçado pelo desemprego, pela droga, miséria, fome, racismo, fobias, normas religiosas excludentes. A infinita lista da “lepra” contemporânea pede de nós a coragem do leproso do Evangelho e a capacidade de nos ajoelhar diante de Jesus e repetir: “Se queres tens o poder de purificar-me”.  Ao mesmo tempo somos chamados a agir com a compaixão do Mestre aproximar-se dos necessitados e excluídos, tocar neles e romper todas as barreiras discriminatórias.

Isso significa colocar em prática os conselhos de São Paulo:Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus. Não escandalizeis ninguém, nem judeus, nem gregos, nem a igreja de Deus. Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo”.  Imitar Cristo implica em fazer de sua vida um dom de amor e de serviço em favor da vida e da dignidade das pessoas.

É verdade que não faltam em nossa Igreja e comunidades iniciativas extraordinárias de promoção e de acolhimento, entre os agentes pastorais, e os movimentos de Igreja. Neste tempo de pandemia, não poucos profissionais arriscam a própria vida para salvar e facilitar a recuperação de doentes.

Nunca é demais recordar a figura de Dom Helder Câmara, que foi bispo de Olinda e Recife e residia na Sacristia da Igreja onde acolhia moradores de rua para o café da manhã. Ele tinha consciência de não resolver a questão da pobreza e da mendicância. Entretanto, sem deixar de alimentar os famintos dizia: “Quando dou de comer aos pobres me chamam de Santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista”.

Amar como Jesus amou...

AMAR COMO JESUS AMOU...

Uma das coisas mais bonitas das nossas comunidades é a variedade de canções, orações, e manifestações de piedade que repetem insistentemente nossa aceitação dos ensinamentos de Jesus: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, sorrir como Jesus sorria, viver como Jesus vivia... e ao chegar ao fim do dia eu sei que eu dormiria muito mais feliz”. Será que algumas vezes já paramos para pensar a intensidade das palavras que cantamos? Que implicação tem para a nossa vida fazer uma declaração pública com essas palavras?

Pois o Evangelho desse domingo traz mais uma vez a resposta apontando caminhos para quem quer ser discípulo de Jesus e chegar ao fim do dia podendo colocar a cabeça no travesseiro e dormir com a consciência tranquila. Vejamos: “Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: 'Se queres tens o poder de curar-me'. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: 'Eu quero: fica curado”.

O fantasma da “lepra” contemporânea salta aos nossos olhos disfarçado pelo desemprego, pela droga, miséria, fome, racismo, fobias, normas religiosas excludentes. A infinita lista da “lepra” contemporânea pede de nós a coragem do leproso do Evangelho e a capacidade de nos ajoelhar diante de Jesus e repetir: “Se queres tens o poder de purificar-me”.  Ao mesmo tempo somos chamados a agir com a compaixão do Mestre aproximar-se dos necessitados e excluídos, tocar neles e romper todas as barreiras discriminatórias.

Nunca é demais recordar a figura de Dom Helder Câmara, que foi bispo de Olinda e Recife e residia na Sacristia da Igreja onde acolhia moradores de rua para o café da manhã. Ele tinha consciência de não resolver a questão da pobreza e da mendicância. Entretanto, sem deixar de alimentar os famintos dizia: “Quando dou de comer aos pobres me chamam de Santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista”.

 

 

 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 07 DE FEVEREIRO DE 2021 - 5º DOMINGO COMUM - ANO B

 ELE CONFORTA OS CORAÇÕES

Não é necessário muito esforço para selecionar entre os fatos que tomamos conhecimento ao longo de um dia para se chegar à conclusão que a vida é muito difícil e que estamos mergulhados em um mar de sofrimento, de dor e algumas vezes de desilusão. É sobre essa realidade em que viviam as pessoas ao longo do tempo que tratam as leituras da Palavra de Deus desse domingo.

Notemos as primeiras expressões do livro de Jó: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? Seus dias não são como dias de um mercenário? Como um escravo suspira pela sombra, como um assalariado aguarda sua paga, assim tive por ganho meses de decepção, e couberam-me noites de sofrimento”.

E o Evangelho começa com uma situação difícil: “Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre... depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. A cidade inteira se reuniu em frente da casa”.

Entretanto, em ambos os casos e ao longo de toda a história humana Deus é apresentado conforme rezamos no salmo: “Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações. Ele conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as cura; O Senhor Deus é o amparo dos humildes”.

Na primeira leitura Jó descreve seu sofrimento, amargura e desilusão não como quem faz um relato jornalístico, antes apresenta tudo àquele que é a única esperança certo de que fora d’Ele não existe possibilidade de vencer qualquer tipo de provação e de dor: “Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade”.

No evangelho Jesus se apresenta como a realização do salmista: “É grande e onipotente o nosso Deus seu saber não tem medida nem limites”.  Ele vai à casa da sogra de Pedro que representa todas as pessoas caídas, e sofridas que são descritas na primeira leitura.  Essas pessoas precisam estar de pé e saudáveis.  Deus não é daqueles que olha os problemas e sofrimentos de longe, na pessoa de Jesus, Ele se aproxima mostra seu interesse chega perto, olha nos olhos, toma pela mão e ergue.  Como no domingo passado, vemos mais uma vez que Jesus age com autoridade, ele estimula as pessoas a não ficarem presas aos sofrimentos e dores. Sua ação e suas palavras modificam a realidade sofrida: Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem” A ação de Jesus sugere que os discípulos sejam continuadores dessa missão que revela a presença de Deus agindo nas pessoas para continuar a tarefa libertadora começada por Jesus.

Na carta aos coríntios São Paulo fala com sutileza dos sofrimentos a que todos estão sujeitos e afirma que ele mesmo se igualou a todos os sofredores e excluídos: Com os fracos, eu me fiz fraco, para ganhar os fracos. Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele”.

Tal como Paulo e os outros discípulos e o testemunho de homens e mulheres ao longo do tempo, também nós somos chamados a testemunhar a proposta libertadora que Jesus para o mundo.  Não podemos nos deixar guiar interesses pessoais, mas pelo amo a Deus ao Evangelho e às pessoas.  Tal como a sogra de Pedro, ou como São Paulo somos chamados a nos colocar a serviço das multidões de sofredores que estão ao redor de nossas casas e por toda a região.

HOMILIA PARA O DIA 31 DE JANEIRO DE 2021 - 4º DOMINGO COMUM - ANO B

 SÓ ELE É NOSSO DEUS E NOSSO PASTOR

Neste tempo de pandemia em que o uso das tecnologias de informação e comunicação se mostrou como um poderoso instrumento para aliviar os sofrimentos, o isolamento, a solidão e distância provocados pelas circunstâncias da COVID 19, ao mesmo tempo não faltaram pessoas e instituições que aproveitaram da oportunidade para utilizar as redes sociais disseminando medo, ódio, fake news, e assim por diante.

As leituras da Palavra de Deus deste domingo mostram também como ao longo do tempo as pessoas e comunidades foram vítimas de aproveitadores mal intencionados que, como nosso tempo, utilizaram o nome de Deus para garantir vantagens e interesses pessoais. Deus, por sua vez, responde sempre com sua presença amorosa e uma palavra de misericórdia e de inclusão.

O texto do Deuteronômio mostra como Deus faz surgir um verdadeiro anunciador da sua vontade, alguém escolhido dentre o povo: “Farei surgir um profeta e porei em sua boca as minhas palavras”. Ontem como hoje aquele que se reconhece escolhido e enviado por Deus não deverá fazer uso desta situação para tirar vantagem e agir em benefício próprio, antes estar a serviço das pessoas e da vida para todos reconhecendo tudo como um dom do Criador para o mundo.

São Paulo pede aos irmãos da cidade de Corinto que tenham sempre em conta as prioridades e o compromisso com aquilo que dura em detrimento do que é transitório e passageiro. Fica mais do que claro na segunda leitura que não se trata de ignorar as realidades terrenas, mas que as coisas deste mundo que passa não podem servir como âncora para as nossas ações e nossa vida, pelo contrário: Digo isto para o vosso próprio bem e não para vos armar um laço. O que eu desejo é levar-vos ao que é melhor, permanecendo junto ao Senhor, sem outras preocupações”.

O Evangelho mostra como a sinagoga e o culto religioso no tempo de Jesus tinham se tornado um lugar e uma oportunidade para institucionalizar a miséria, o medo, o ódio, a exclusão e até a violência. Ensinando com a autoridade que lhe fora dada por Deus Jesus mostra sua força contra todo o poder do mal. Por isso mesmo é reconhecido pelo próprio causador do sofrimento como “O Santo de Deus”.  Na condição de Filho enviado para fazer a vontade do Pai renova e transforma todas as escravidões em lugares de liberdade e de vida em abundância: “Jesus o intimou: 'Cala-te e sai dele!' Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu. E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: 'O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem.”

Com firmeza e coragem Jesus contradiz a lógica daqueles que usando das oportunidades de serviço e dos bens que a criação disponibiliza excluíam as pessoas mantendo-as em situação de escravidão e condenando-as ao sofrimento até mesmo sustentado pela estrutura da sinagoga.

Como discípulos de Jesus nós também temos a responsabilidade de continuar a sua missão e pelo nosso testemunho de vida lutar contra todos os “demônios” que roubam a vida e causam sofrimento nas famílias, nas igrejas e na sociedade.

Ser discípulo de Jesus implica percorrer os mesmos caminhos que Ele percorreu lutar por um mundo mais humano, mais solidário, mais fraterno. Não temos o direito de ficar de braços cruzados e deixar que as coisas aconteçam como se não tivéssemos nenhuma responsabilidade com a humanização das relações pessoais e com a casa comum.

É isso que rezamos e pedimos no Salmo:

 Não fecheis o coração, ouví, hoje, a voz de Deus!

Ao seu encontro caminhemos com louvores,
e com cantos de alegria o celebremos!

Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor,
e nós somos o seu povo e seu rebanho,
as ovelhas que conduz com sua mão.

HOMILIA PARA O DIA 24 DE JANEIRO DE 2021 - 3º DO TEMPO COMUM - ANO B

 MOSTRAI-ME Ó SENHOR O SEU CAMINHO

Dentre as situações que as pessoas têm dificuldade no dia a dia uma delas é tomar decisões. Sobretudo, porque as decisões podem ser de caráter imediato e apontarem para soluções e alternativas imediatas, porém com consequências para o futuro de todos os envolvidos numa determinada escolha. Esse processo que marca toda a vida costuma ser doloroso e quase sempre se recorre a algum conselho, palpite, opinião e assim por diante.

A leitura do livro de Jonas é a continuação da decisão dele mesmo tomando outro caminho em vez daquele para o qual tinha sido enviado e que o levou a ser jogado no mar e engolido por uma baleia.  No texto de hoje ele aceita a missão e leva ao povo de Nínive a notícia e o convite para uma mudança de vida: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída'. Os ninivitas acreditaram em Deus; aceitaram fazer jejum, e vestiram sacos, desde o superior ao inferior. Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez”.  A decisão dos ninivitas lhes fez provar a bondade e a misericórdia de Deus que significou o perdão e o começo de uma nova história.

A comunidade de Corinto, para quem Paulo escreve a segunda leitura deste domingo, é composta por gente valorosa e entusiasmada, mas que ao mesmo tempo vive as fragilidades de uma cidade com muitos costumes e com culturas muito distintas. E Paulo valoriza tudo o que eles já fazem, ao mesmo tempo lhes deixa claro que todas essas coisas são transitórias e o que os verdadeiros valores estão muito além das realidades terrenas. Vivendo num lugar e num tempo determinado é importante considerar e observar todas as realidades cotidianas sem perder de vista os valores do Reino. Vivam as realidades deste mundo na certeza de que todas elas são passageiras, ou seja, não tornem valores transitórios em escolhas absolutas: “pois a figura desse mundo passa”.

Marcos narra o início da atividade messiânica de Jesus que é a confirmação das outras duas leituras: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”.  Estas palavras são a confirmação do convite feito por Jonas e ouvido pelos cidadãos de Nínive e de Paulo aos coríntios.

Na sequência Jesus forma sua primeira leva de seguidores convidando-os a mudança radical no seu estilo de vida: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens'. Eles imediatamente seguiram a Jesus”.

Também nós somos diariamente convidados a modificar nossa mentalidade, nossos costumes, nossas verdades e aceitar uma proposta nova, rever nossos valores e atitudes. Para caminhar com Ele e construir uma nova história será necessário uma grande dose de generosidade, de compaixão de coragem para frequentes mudanças de mentalidade. O seguimento de Jesus pode ser pleno em qualquer estado de vida e em todas as profissões desde que tenham como referência a compaixão, a partilha, a construção de um mundo mais justo, fraterno, humano, um mundo que se pode definir como um lugar no qual vivamos como irmãos.

Rezando o salmo deste domingo procuremos tornar realidade aquilo que rezamos:

Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,
vossa verdade me oriente e me conduza!


Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação.


Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura
e a vossa compaixão que são eternas!
De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia
e sois bondade sem limites, ó Senhor!

O Senhor é piedade e retidão,
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
Ele dirige os humildes na justiça,
e aos pobres ele ensina o seu caminho.

 

HOMILIA PARA O DIA 17 DE JANEIRO DE 2021 - 2º DO TEMPO COMUM - ANO B

 O MESTRE MORA NO MEIO DO POVO!

Uma das características da criatura humana é a insatisfação e a busca por novidades e oportunidades para realização pessoal. Nesse processo a pessoa está geralmente disposta a empreender novas aventuras e empreendimentos. Para isso quase sempre busca parcerias e alguém com quem compartilhar seus projetos e sonhos. As leituras da Palavra de Deus nesse domingo apresentam diferentes situações nas quais as pessoas compartilham suas preocupações e esperanças.

O autor da primeira leitura descreve o diálogo e aceitação da proposta surgida de maneira quase misteriosa. Deixando claro que a inciativa é de Deus conclui com a compreensão do chamado e a resposta de Samuel: “Fala Senhor que teu servo escuta'.  Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. E não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras”.

Ontem como hoje, não são poucas as vozes que “vendem” propostas de felicidade, cada um de nós é desafiado a identificar neste emaranhado a voz de Deus. Obviamente que para isso a ajuda e a confiança em alguém que partilha conosco a mesma fé e percorre o mesmo caminho é uma participação significativa.

Falando para a comunidade de Corinto, Paulo sugere a coragem e a determinação para levar a vida guiada pela luz de Deus. Insistindo na pureza e no respeito para com a vida toda e o cuidado com o corpo o apóstolo conclui: “De fato, fostes comprados, e por preço muito alto. Então, glorificai a Deus com o vosso corpo”.  Isso significa levar a sério e com coerência os compromissos assumidos respeitando a si mesmo e aos outros.

A expectativa em relação à vinda do Messias ocupava o centro das preocupações no tempo de Jesus. O evangelho descreve o encontro com João Batista a formação da primeira comunidade de seguidores do Mestre. Reconhecendo o Cristo que passa os primeiros discípulos são convidados a ir com ele. Não são bonitas palavras que irão definir onde ele mora, antes a abertura para outro estilo de vida: “Mestre, onde moras?' Jesus respondeu: 'Vinde ver”. E na sequência dessa descoberta a coragem para sair, anunciar e convidar outros a fazerem a mesma experiência: “André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Ele foi encontrar primeiro seu irmão Simão e lhe disse: 'Encontramos o Messias (que quer dizer: Cristo)'. Então André conduziu Simão a Jesus”.

A morada do mestre logo foi reconhecida por ser um lugar onde se quer se poderia  ter a tranquilidade de uma pedra para reclinar a cabeça, pelo contrário, era possível encontrá-lo em meio aos famintos, doentes, pecadores, pobres, desprezados com eles se identificava procurando promover e libertá-los das amarras, sofrimentos e exclusões.

Também nós que estamos ávidos por novas aventuras, sonhos, descobertas, empreendimentos temos a possibilidade de encontrar e reconhecer Jesus: São milhões de desempregados, vitimados pela violência e pelo feminicidio, nas crianças abandonadas e sem comida, sem escola, sem dignidade, nos jovens vítimas da droga e de outras formas de exploração inclusive sexual.

Fazer do evangelho um empreendimento que valha a pena é muito mais do que pertencer a uma Igreja, receber os sacramentos, participar de algum movimento observar certas práticas e regras doutrinais.

Encontrar Jesus hoje, e ser seu parceiro significa construir comunhão com Ele no encontro com as pessoas que bem perto de nós são vítimas de toda forma de abandono, sofrimento e dor.

Se perguntarmos hoje de novo: Mestre onde mora, ele nos dirá “No meio do povo, vem e verás”.

Peçamos a graça de responder com o salmista: Eis que venho, Senhor,
com prazer faço a vossa vontade! 
Sacrifício e oblação não quisestes, mas abristes, Senhor, meus ouvidos; não pedistes ofertas nem vítimas, holocaustos por nossos pecados”. 

HOMILIA PARA O DIA 03 DE JANEIRO DE 2021 - FESTA DA MANIFESTAÇÃO DO SENHOR - ANO B

 LUZ PARA ILUMINAR AS NAÇÕES

O filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella fala do cotidiano das pessoas afirmando que cada um derrama proposital ou acidentalmente aquilo que traz dentro de sua caneca. Isso significa que somos desafiados a nos perguntar frequentemente o que carrego na minha caneca. Ao mesmo tempo ter a certeza que quando a vida nos surpreende vamos derramar exatamente aquilo que carregamos: Alegria, agradecimento, paz, bondade, humildade! Ou pelo contrário raiva, amargura, tristeza, maledicências e assim por diante.

Ora as leituras deste domingo da manifestação do Senhor nos apresentam a ação de Deus no cotidiano da história e como Deus derrama sobre o mundo aquilo que lhe é próprio e como convida as pessoas a terem as mesmas atitudes.

Deste modo o profeta Isaias fala ao povo de Israel, que retornava da dura experiência do exílio sonhando com uma cidade muito diferente daquela que estavam encontrando. Renova-lhes a esperança garantindo que Deus vai dar a esta terra um novo rosto e que para isso seja pleno todas as pessoas que ali se encontram precisam agir como Deus. Atrair os olhares do mundo inteiro implica que todos façam a sua parte na manutenção da luz que Deus derrama sobre abundantemente: “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora”.

A mesma tônica é dada por São Paulo na carta aos efésios: “Se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso respeito, Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas mas acaba de o revelar agora” Em outras palavras a salvação de Deus é uma realidade que alcança a todos e não exclui ninguém, em torno da pessoa e do mistério que foi revelado em Jesus todos são convidados a se encontrar numa fraternidade capaz de partilhar e construir solidariedade com todas as pessoas e com a nossa casa comum.

No Evangelho Mateus narra o surpreendente encontro entre os magos estrangeiros e o Rei Herodes. Enquanto os primeiros estavam repletos e guiados pela luz de Deus representada pela estrela, Herodes tinha em sua caneca ódio, vingança, morte e sofrimento. Os magos seguiram a estrela, encontraram o menino e seguiram suas vidas por um caminho diferente do Rei: “Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram e retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho...” enquanto “Herodes ficou perturbado” e quis impedir a manifestação de Deus ao mundo.

Os magos são a representação de todas as pessoas que empenham todos os esforços para construir diariamente a casa dos filhos de Deus, encontram Jesus e o levam ao mundo. Peçamos a graça também nós de lhe seguir sua luz e de levá-la ao mundo acolhendo e incluindo as pessoas nesse grande projeto de vida e de esperança. Como cristãos procuremos encher nossa caneca com tudo o que há de melhor para derramar ao mundo. E que em nossa caneca as pessoas possam reconhecer Jesus e seu projeto para de vida plena para a humanidade inteira.